sexta-feira, setembro 14, 2012

Toodle-oo, Portuguese


Após ler este texto de Nuno Ferreira sobre o que ele tem feito para contrariar o Aborto Ortográfico, também eu decidi fazer uma reflexão sobre o impacto que a dita aberração teve na minha vida enquanto Português.
E a conclusão a que cheguei é que, se o monstro não for suspenso e depois revogado (para contribuir para isso, assinem a ILC) a atitude que tomarei será a de, pura e simplesmente, abandonar o "Português".

Senão vejamos:

- No que toca à televisão, só vejo um pouco do telejornal à hora de jantar. E por "vejo" leia-se "ouço", porque na verdade não consigo ver aqueles rodapés cheios de erros. Prefiro olhar para a comida. De resto a programação dos quatro canais é tão mas tão má que tanto se me dá que fechem a RTP ou não. Por mim podiam até fechar os quatro canais que não lhes sentiria a falta.

- Filmes. Bom, ao cinema não vou. Mas já não ia antes da Abortização das legendas porque me recuso a pagar 7€ para ver um filme quando depois o Blu-Ray me custa 8€-10€.

- Blu-Rays e DVDs não os compro em Portugal. Só um maluco (ou pessoas pouco conhecedoras do Mundo online) é que compram esses produtos em Portugal. Os meus vêm todos do Reino Unido onde custam, no máximo 15€ (E isto é só à data de lançamento, porque 1 a 2 meses depois baixam de preço). Longe, portanto, dos 20€ a 30€ que custam em Portugal. As legendas não preciso delas porque, graças a Deus, sei falar e compreendo o Inglês.

- Jornais, não leio. Ou melhor, não leio os jornais físicos. Hoje em dia, quem tem Facebook não precisa de comprar jornais, uma vez que todos os jornais possuem páginas na referida Rede Social onde vão colocando as notícias ao longo do dia. Para as ler em maior profundidade os jornais têm páginas online. Dispenso, portanto, jornais em papel.
De qualquer das formas nenhum dos jornais que leio - Público e Diário Económico - aderiu ao Aborto Ortográfico. O Jornal Público, aliás, tomou uma posição corajosa de oposição frontal a essa monstruosidade parida por um Governo de arrivistas e aprovado por deputados analfabetos (sim, porque só os analfabetos assinam de cruz).

- Livros eram a única coisa que comprava em Portugal. Infelizmente as Editoras de que era cliente foram todas a correr Abortizar livros. Umas por interesse económico descarado (caso da Presença e da Bertrand que, após a falência, foi comprada pela Porto Editora, grupo que tem grande interesse no AO para ganhar dinheiro a vender novos dicionários e livros escolares) outras por carneirismo e nojenta cobardia dos seus responsáveis (caso da Editora Saída de Emergência, que teve das atitudes mais repugnantes que vi). Salvam-se, em Portugal, as Edições Europa-América, a Gradiva, e outras duas ou três que não foram na cantiga e preferiram respeitar os seus leitores.

Ora, face a isto tudo, eu, que sempre gostei de ler, tive de procurar alternativa. E esta veio, novamente, do Reino Unido.
O facto é que, após o inicio da Abortização de livros em Portugal, contam-se pelos dedos da minha mão direita o número de livros que comprei em Português (e refiro-me a Português, não a Acordês). Todos os outros livros passei a comprá-los em Inglês. Mesmo quando se trata de colecções que comecei em Português (como os livros da Guerra dos Tronos, a Saga Sangue Fresco, o Ciclo Inheritance ou a Trilogia dos Jogos da Fome).

E sabem que mais? Só poupei dinheiro com isso. Sim, é que os livros em Inglês, mesmo com capa dura (que são os que prefiro e compro) são mais baratos que as respectivas edições em Português. Aliás, por exemplo, comprei os livros da Guerra dos Tronos em Inglês nas suas Deluxe Collectors Edition...e foram mais baratos que os respectivos equivalentes em Português.

- O meu telemóvel está em Inglês. Isto porque os novos Nokia Lumia vêm em Brasileiro. Sim. Leram bem. Brasileiro. Eles não estão em Português. A Nokia, tal como muitas outras empresas (como a HP), não se deu a esse trabalho. Adoptou a ortografia Brasileira para o Português e pronto. Mesmo contrariando o próprio Aborto Ortográfico. A operadora - Vodafone - essa continua a escrever tudo em Português. E que assim continue!

- O meu Office é ainda o 2003 (que se manteve em Português). E continuará a ser por muitos e longos anos, se Deus quiser. Se não quiser, tenho uma máquina de escrever.

- O meu Facebook continua em Português. Aparentemente o Sr. Zuckercoiso não se preocupou muito em alterar isso. O dia em que se preocupar, passa para Inglês e resolve-se o problema. Já os meus "amigos" que usam o Aborto Ortográfico foram todos removidos. Felizmente o número de incidências cifrou-se em 1 pessoa. E nem sequer era MESMO um amigo. Era um "amigo". Daqueles "amigos" de facebook, sabem como é.

- O Google já está em Inglês, bem como o Firefox e o Chrome.

- Também cancelei todos os cartões de fidelidade (Cartão Bertrand, por exemplo) de empresas que aderiram ao Aborto, e cancelei todas as newsletters que não venham em Português correcto. O único cartão de sobrevive é o cartão Fnac, porque já o paguei e ainda lá tenho pontos. De qualquer das formas o cartão acaba no início de Janeiro de 2013. E não será renovado. 


Graças ao Aborto Ortográfico passo 80% do meu dia a ler e escrever em Inglês. Se o Aborto Ortográfico não for revogado, a percentagem passará para 100%. E não julguem que isso me rala.

Tudo tenho feito e tudo continuarei a fazer para tentar travar esta aberração. Mas se no fim da guerra a democracia não vingar, então eu deixo de querer ter relações com este País.
Não somos independentes economicamente. Não somos independentes politicamente. Se até a Língua nos destruírem, pouco me rala a austeridade e a necessidade de salvar o País da bancarrota. O Sr. Passos Coelho e o Sr. Seguro podem ir para o raio que os parta mais os seus "planos para salvar Portugal". Não há Portugal para salvar. Já o disse e repito-o: um País que não tem economia própria, política própria, moeda própria e Língua própria, não é um País.


Se me privarem da minha própria Língua, então preferirei esquecê-la de uma vez por todas. Passo a usar única e exclusivamente o Inglês como língua primária. O mais provável é só ganhar com isso.
Agora uma coisa é certa: a mim nunca me obrigarão a escrever em Acordês, a ler Acordês ou a olhar para o Acordês. Nem que tenha de imigrar para a Nova Zelândia.

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